Google tira Android de celulares Huawei, e "guerra fria" avança; entenda.

Empresa chinesa está em lista negra comercial de Donald TrumpImagem: DAVID MCNEW / AFP


RESUMO DA NOTÍCIA
  • Google está cumprindo veto do governo Trump contra gigante chinesa
  • Acusada de espionagem por Trump, Huawei é 2ª maior fabricante de celulares
  • Na prática, celulares da Huawei não receberão novo Android e apps Google
  • Algumas atualizações públicas ainda serão permitidas
  • Se perdurar, empresa pode tirar Android de seus produtos no futuro

Não demorou muito para que a Huawei sofresse as primeiras consequências após o presidente dos EUA, Donald Trump, ter colocado a empresa chinesa em uma lista de boicote comercial. O Google disse neste domingo (19) à Reuters que suspendeu negócios com a fabricante que exigem transferência de equipamentos, programas e serviços técnicos, exceto os disponíveis ao público via licenças de código aberto.

Isso significa que quem tem um celular Huawei deixará de receber atualizações completas do sistema operacional Android enquanto a medida durar. Receberão apenas atualizações de segurança e atualizações de apps, inclusive dos feitos pelo Google. Ainda não se sabe como serão comercializados os novos aparelhos da marca, mas o mais provável é que recebam adaptações de uma versão software-livre (e mais simples) do Android.

A decisão do Google, que segundo um porta-voz está "cumprindo a ordem [do governo dos EUA] e analisando as implicações", terá um impacto gigantesco no modelo de negócios da chinesa, que deve perder bastante terreno nos próximos meses ou anos.

Sem acesso ao sistema Android em sua plenitude, por prazo indeterminado, a empresa precisará recorrer a alternativas radicais se quiser se manter no mercado de smartphones, que ela vinha abocanhando rapidamente.

Faz poucas semanas que a Huawei voltou a vender celulares no Brasil. Ela escolheu os P30 Pro e P30 Lite para dar um avanço importante na expansão em novos mercados. A expansão para o Brasil é considerado um passo fundamental para que ela consiga alcançar a líder Samsung.

A Bloomberg informou nesta segunda-feira (20) que fabricantes de chips como Intel, Qualcomm, Xilinx e Broadcom também vão interromper suas vendas de componentes para a Huawei, pelo mesmo motivo: seguir as ordens do governo Trump.

O que aconteceu?
Há meses os EUA e a China estão em guerra comercial. Em meio a isso, a Huawei, uma das maiores empresas de telecomunicações do planeta, é um dos alvos preferidos de Trump. Representantes do governo têm levantado suspeitas de que a empresa faz negócio com países sob sanções comerciais dos EUA, além de possível espionagem em parceria com o governo chinês.

Na quinta-feira (16), duas novas medidas americanas limitaram drasticamente a atuação comercial da Huawei nos EUA:
Trump decretou estado de "emergência nacional" para proibir a compra de equipamentos de telecomunicação estrangeiros que prejudiquem a segurança dos EUA. A restrição vale para equipamentos como as antenas de 3G, 4G e 5G da Huawei, e em tese não valeria para os celulares, mas já há um veto informal no governo aos smartphones da chinesa.

O Departamento do Comércio dos EUA incluiu a Huawei e 70 de suas afiliadas a "lista de boicote". Com isso, a empresa precisa de licença do governo para comprar componentes com tecnologia norte-americana --e a licença não é concedida caso o negócio afete a segurança nacional ou os interesses da política externa dos EUA.

O auge dessa crise aconteceu no final de 2018, quando Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei e filha do fundador da empresa, Ren Zhengfei, foi presa no Canadá. O motivo: uma subsidiária da Huawei teria vendido equipamentos a empresas do Irã, algo proibido desde 2015 a qualquer empresa que opera nos EUA. Wanzhou foi solta sob fiança em fevereiro.

No início deste ano, chefes das principais agências de segurança dos EUA disseram que existe risco de espionagem em celulares da Huawei. Seu fundador, Ren Zhengfei, é ex-engenheiro do Exército de Libertação do Povo, que tem uma conexão com o Partido Comunista Chinês. Isso contribuiu para as suspeitas.

Meng Wanzhou, executiva da Huawei presa durante uma conexão no CanadáImagem: EPA

Como o Google entra nisso?
Os detalhes sobre os serviços específicos a serem afetados pela suspensão ainda estão sendo debatidos internamente no Google, mas a princípio o que sabemos é que:

  • Google não faz negócio com a Huawei que exija transferência de equipamentos, programas e serviços técnicos;
  • Celulares da Huawei perdem acesso a atualizações do sistema operacional Android. Ou seja: nada de Android Q ou posteriores para quem tem um Huawei P30;
  • Versões futuras dos smartphones da chinesa também perderão acesso aos apps nativos do Google, como Play Store, Gmail, Google Maps e YouTube;
  • A Huawei agora só tem acesso ao Projeto de Código Aberto Android (AOSP), usado pelas fabricantes para desenvolver e modificar o Android. É dele que sai uma versão pura do sistema, mas restrita: para usar a Play Store e os apps Google (Gmail, YouTube etc.) é preciso pagar ao Google. Só que a Huawei estaria impedida de fazer isso por causa das sanções dos EUA
  • Google Play e proteções de segurança do Google Play Protect continuarão a funcionar nos aparelhos Huawei existentes. As restrições passariam a valer para aparelhos novos
For Huawei users' questions regarding our steps to comply w/ the recent US government actions: We assure you while we are complying with all US gov't requirements, services like Google Play & security from Google Play Protect will keep functioning on your existing Huawei device.- Android (@Android) 20 de maio de 2019

O que a Huawei diz?
A empresa diz que fez "contribuições substanciais" para o desenvolvimento do Android e que continuará com as atualizações de segurança dos aparelhos que já existem:

A Huawei continuará a fornecer atualizações de segurança e serviços de pós-venda para todos os produtos existentes para smartphones e tablets Huawei e Honor, cobrindo os que foram vendidos e que ainda estão em estoque globalmente

E agora?
As decisões do governo Trump estão tendo o efeito esperado: assustar todo mundo e "sangrar" a Huawei, hoje a segunda maior empresa de celulares do planeta, na frente da americana Apple, e líder no setor de infraestrutura de comunicações, especialmente em equipamentos com a tecnologia de conexão 5G, crucial para o crescente negócio da internet das coisas.

Se as pessoas levarem a sério as medidas de Trump, a empresa vai perder negócios e consumidores em um ritmo acelerado. E aí surgem dois caminhos: usar todos os meios legais e políticos para derrubar ou enfraquecer os vetos de Trump ou largar mão do Android em seus celulares a longo prazo e desenvolver seu próprio sistema operacional.

Desde novembro sabemos que a Huawei estava desenvolvendo sistemas alternativos não apenas ao Android, mas também ao Windows, da Microsoft. A Huawei também fabrica computadores.

"Nós preparamos nosso próprio sistema operacional. Caso aconteça de não podermos mais usar esses sistemas, estaremos preparados. Esse é o nosso plano B. Mas é claro que preferimos trabalhar com os ecossistemas do Google e da Microsoft", disse Richard Yu, principal executivo de negócios da Huawei, ao jornal Welt, em março.

Com o poder de mercado da Huawei na Ásia e em outros mercados, isso pode resultar em um terceiro sistema capaz de rivalizar com Android e iOS, na melhor das hipóteses; ou na pior, fazer a empresa perder milhões de usuários que já estavam acostumados com o Android, maior sistema móvel do planeta. Aguardemos os próximos capítulos.

Márcio Padrão
Do UOL, em São Paulo

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